09/09/2007

SE (Rudyard Kipling)

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

(Tradução de Guilherme de Almeida)

Rudyard Kipling (1865 – 1936), escritor e poeta inglês, nasceu em Bombay, Índia. É mais conhecido por sua obra dedicada às crianças: ‘Mogli - o menino lobo’, ‘Kim’; os poemas ‘Gunga Din’, ‘Se’, e suas muitas curtas estórias.

Aos seis anos, Kipling foi enviado, juntamente com sua irmã menor, para a Inglaterra. Tudo indica que a senhora responsável por sua educação era negligente, o que aparentemente influenciou a obra de Kipling posteriormente, levando-o a nutrir simpatia especial pelas crianças.

Após seu retorno para a Índia, Kipling trabalhou como correspondente de um jornal. Foi nessa época que publicou suas primeiras curtas estórias, dentre as quais ‘O homem que se tornaria rei’.

Nas capas dos muitos livros de Kipling consta o desenho da famosa suástica alemã, o que levou muitos a crer ser ele nazista. Na verdade, a suástica é um símbolo indiano para desejar boa sorte, muito usada pelos comerciantes indianos em seus livros de contabilidade.

Quando a suástica começou a ser associada ao nazismo, Kipling mandou retirar o símbolo de seus livros. É importante notar que a suástica nazista gira para a direita, enquanto a de Kipling para a esquerda, que é a típica suástica usada no budismo.

Em 1907 ganhou o Prêmio Nobel de literatura .

Morto, Kipling perdeu parte da popularidade por ser considerado defensor do imperialismo ocidental.

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