22/11/2007

"Ser escritor é uma maneira de entender o mundo", diz Saramago



Ao lançar "O Homem Duplicado", Saramago deu uma entrevista. Aos 85 anos, o escritor português, Prêmio Nobel de Literatura e comunista declarado, José Saramago descobriu outra vida sua. Ele tinha esquecido, mas sua mulher, Pilar del Río, a encontrou em um monte de malas que ele havia guardado, como uma recordação trancada, em sua casa de Lisboa.

Saramago foi a Argentina e o que viu ali, em homenagem aos desaparecidos, lhe causou "uma imensa emoção". Mais de um quilômetro de nomes de desaparecidos esculpidos em pedra. "Não há nada mais. Sobriedade da pedra. Essa cor escura."

Ele chorou em silêncio nesse parque. "Não vale a pena levar flores, simplesmente olhe. Cada uma dessas pedras e cada nome escrito nelas é algo que se perdeu para ser evocado. Junto ao mar. Com uma sobriedade intensa. Ali onde está esse Parque da Memória foi descoberto o corpo de um menino de 14 anos que tinha sido empalado. Agora haverá ali uma escultura que vai representá-lo; quando a maré sobe, a figura desaparece. E depois volta, como uma ressurreição."

Sobre seus 85 anos diz: "É curioso que esse homem da minha juventude venha quando completo 85 anos". Uma idade "à qual se chega com sorte". "Às vezes as vidas longas significam solidão", acrescenta. Mas no seu caso, "com saúde suficiente para estar fazendo coisas", essa idade chega com um romance a caminho ("A Viagem do Elefante") e com uma atividade que não pára.

Essa vida desconhecida surpreendeu Saramago "porque revela que nesses tempos em que sempre pensei que não tinha feito nada escrevi como um verdadeiro louco".

Eram textos de um rapaz de 19 anos que vinha de uma família analfabeta. Saramago não vê neles "tanta qualidade", mas sim a força que nesse momento já o fazia dizer com toda tranqüilidade: "Quero ser um escritor". Uma convicção que acabou por se transformar numa espécie de compromisso: "Estava aqui para escrever, essa era a minha vocação. Vi isso tão claro que escrevia, e aí está essa novela incompleta".

Escritor, o que é isso? "Uma maneira de entender o mundo, uma forma de assistir a um universo que então começava a se manifestar com uma série de mudanças que exigiam de mim coerência de pensamento e de ação. E aí eu estive, unindo essas convicções com minha experiência, aprendendo com os equívocos."

Fonte: El País

Um comentário:

Anônimo disse...

ah eu vi isso outro dia, na época do nobel pra ele, ouvi muita gente dizendo que o jorge amado é que merecia.

mas eu acho as obras do saramago mais engajadas, politicamente falando.