17/08/2008

Entusiastas reproduzem marcha dos legionários romanos

Dois mil anos atrás, os legionários romanos contribuíram para a expansão do Império pela Europa. Agora, em pleno século 21, um grupo de entusiastas quis sentir na pele como era a vida dos soldados na época.

Carregando escudos e espadas como verdadeiros legionários do Império Romano, um grupo de alemães constituiu a Legião XV Primigenia e marchou 100 quilômetros entre as cidades de Bergkamen e Xanten, na Renânia do Norte-Vestfália, às margens do rio Lippe e seguindo antigas rotas romanas. Os "legionários" percorreram a distância sob o comando do "centurião" (equivalente a capitão, na hierarquia militar atual) Alexander Schneider.

"Queremos reproduzir da forma mais realista possível como era a vida de um típico legionário romano", explica Schneider à Deutsche Welle. "Faz parte da reprodução a realização de tarefas e a superação de dificuldades que atualmente não existem mais."

A primeira destas dificuldades: enfrentar duas semanas de marcha, vestidos dos pés à cabeça como verdadeiros soldados romanos.

A dura vida de um legionário

Apesar das inconveniências causadas pela fidelidade histórica nas vestimentas, os mínimos detalhes foram respeitados. A limpeza corporal também só permite o uso de utensílios da época. Dormindo em barracas similares às de outrora, os participantes levantam às seis horas da manhã, recolhem o acampamento e começam a caminhada do dia, enquanto animais levam a carga em arreios confeccionados especialmente para a ocasião.

"Cada dia avançamos dez quilômetros. Essa era mais ou menos a distância que eles percorriam na época do Império. No começo não estávamos seguros de que as sandálias agüentariam a marcha toda, mas não tivemos nenhum problema. Isso porque são feitas de tiras de couro e pregadas com tachinhas", disse Schneider.

Com os pés acostumados aos caminhos de terra e aos sapatos duros, os legionários da época não devem ter tido tantos problemas como os 20 participantes da marcha de hoje. "As sandálias são muito rasas, de noite nota-se a dor nos calcanhares", queixa-se o centurião.

Entre os 20 membros do grupo, alguns trabalham em museus. Porém, os historiadores profissionais apareceram apenas no primeiro dia e depois abandonaram a marcha. "O que estamos fazendo não tem nada a ver com ciência. Muitas coisas nunca haviam sido aplicadas na prática, portanto temos de improvisar", comenta Jurjen Draaisma, um jovem participante.

Portando um gládio – espada curta de dois gumes utilizada pelas legiões romanas –, armadura, escudo e, como um bom soldado, sua bolsa com cereais, queijo e embutidos secos, Draaisma carrega diariamente cerca de 40 quilos. "Toda noite me alegro de estar no acampamento, descansar e comer algo quentinho, como os romanos em sua época", disse.

Cardápio à romana

A autenticidade é mantida até mesmo na hora da alimentação. O padeiro do grupo, Wilhelm Smitmans, tem de fazer a massa dos pães com o que encontra nas bagagens, nas granjas da região ou pelo caminho. "O que mais comemos são cozidos com verduras da região e uma mistura de cereais que cozinho quase diariamente."

O pão é assado diariamente num forno de barro com cereais moídos na hora. A água e posca, tradicional bebida da armada romana composta da mescla de água e vinho, são transportadas em ânforas.

Para Smitmans, o ponto alto da marcha foi quando ele pôde utilizar uma frigideira dobrável de ferro, fabricada de acordo com um exemplar original em exposição no museu de Xanten. "Não deu para fazer filé, mas com muito amor e azeite de oliva conseguimos fazer ovos mexidos para 17 pessoas", orgulha-se Smitmans.

por André Sarin

Nenhum comentário: