08/05/2009

Imprensa alemã ressalta importância universal de Augusto Boal

A morte do criador do Teatro do Oprimido, Augusto Boal, no último dia 2 de maio, aos 78 anos, foi destacada na imprensa alemã na forma de um renovado reconhecimento pela obra de um artista que esteve à frente de seu tempo.

Os maiores jornais do país foram pegos de surpresa pelo fato, mas aqueles que se pronunciaram foram categóricos ao enfatizar o caráter democrático e revolucionário das idéias plantadas pelo autor teatral carioca, que passou parte significativa da vida no exterior. Isso contribuiu decididamente para que Boal se tornasse a principal referência do teatro brasileiro no mundo.

Admirado por parcela da esquerda alemã e por uma legião de atores e diretores teatrais provenientes da cena alternativa de Berlim, Munique e outro centros culturais europeus – como Paris, Viena e Londres –, Boal tinha na Alemanha escala certa para suas investidas teatrais nos campos da emancipação política, da educação e até da psicoterapia.

Brilhantismo intelectual e carisma

Oliver Scheiber, do semanário Die Zeit, que circula principalmente no meio acadêmico e intelectual, lembrou a última vez em que Boal esteve em Viena, na Áustria, em abril de 2008.

Na ocasião, o dramaturgo brasileiro ministrou um workshop para 400 juristas vienenses, explanando como o Teatro do Oprimido poderia enriquecer o trabalho da Justiça. "O carismático pedagogo teatral brasileiro teve diante de mais de 400 espectadores uma performance inesquecível no Palácio da Justiça, um lugar pouco usual para o encontro", escreveu.

Fascinado por Boal, Scheiber descreveu-o como artista, político e pedagogo delicado e atento. "A divulgação de seus métodos teatrais e modelos para processos de modificação política da sociedade o colocam à altura de Brecht, Paulo Freire e Tabori", comparou.

O diário Frankfurter Rundschau destacou a importância de Boal na comunidade internacional. "Em março último, a Unesco nominou Boal, que sofria de leucemia, embaixador mundial do teatro. Na teoria e na prática do Teatro do Oprimido, os espectadores se tornam protagonistas. Eles tomam a iniciativa do que acontece no palco e trabalham para sua própria libertação. Seus métodos, praticados por seguidores no mundo inteiro, são aplicados também na pedagogia e no trabalho social".

Fritz Letsch, um dos principais responsáveis pela divulgação das idéias de Augusto Boal na Alemanha, e que escreveu com Simone Odierna o livro Teatro faz política. O Teatro legislativo segundo Augusto Boal – Um Livro Oficina, foi um dos que defenderam e propagaram a candidatura do brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz de 2008.

"Pela sua obra, que vem se aprimorando desde o começo de seu exílio em 1971 até os dias de hoje, Boal merece com certeza esse prêmio", escreveu Letsch em seu blog pessoal no ano de 2007. "Boal é um dos mais significativos homens de teatro deste século".

A emissora de rádio Deutschlandradio abordou o êxito dos livros do dramaturgo na Alemanha: "Seu livro Teatro do Oprimido é um sucesso mundial. Foi traduzido em 25 idiomas e só na Alemanha cerca de 50 mil exemplares foram vendidos desde a primeira tiragem."

A obra na Alemanha

Em 1997, durante uma de suas passagens pela Alemanha, Boal não escondia sua satisfação pela boa acolhida de seus métodos teatrais no país de Brecht: "Aqui na Alemanha já existem seis livros publicados por outras pessoas sobre o Teatro do Oprimido, como Teatro do Oprimido na Escola, O Teatro do Oprimido e o Psicodrama e o Teatro do Oprimido e os Professores. Isso mostra que a dimensão é enorme", declarou ao jornal Euro-Brasil Press, sediado em Londres.

Indagado sobre qual importância seu teatro teria num mundo transtornado ideologicamente, Boal soltou mais uma de suas originais observações: "Meu teatro é um processo extremamente democrático, em que as pessoas podem expressar os seus desejos. Aí eu acho uma condição do momento, em que o mercado está provocando nas pessoas o que eu chamo de 'a prótese do desejo'. Ele está tirando aquilo que é o nosso desejo autêntico e fazendo com que a gente suponha que deseja aquilo que eles querem vender".

As comparações com Bertolt Brecht

Era comum Boal se deparar com afirmações de que sua obra guardava parentesco com a do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. O brasileiro não negava a influência, mas não o considerava a maior inspiração teatral. Seu coração e seu intelecto pendiam mais para o russo Konstantin Stanislawski e para o inglês William Shakespeare.

Antes de partir para o exílio, no começo dos anos 1970, a última peça que Boal montara no Brasil havia sido A resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht. Já O Círculo de Giz Caucasiano, também escrita pelo autor alemão, chegou a ter uma pré-estréia nos palcos brasileiros, mas Boal e seu grupo não gostaram do resultado e abriram mão de seguir com ela. "É evidente que Brecht me influenciou, mas no sentido que muitos outros me influenciaram. Eu não sou a decorrência de Brecht", afirmou o dramaturgo brasileiro.

Autor: Felipe Tadeu - Revisão: Alexandre Schossler

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Glória,
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Um abraco,
Sandra