12/01/2008

Divina Comédia lidera em site literário



Engana-se quem pensa que é Machado de Assis, Shakespeare, Fernando Pessoa ou qualquer outro livro da lista dos obrigatórios para o vestibular o mais procurado dos que estão em domínio público. A obra com mais downloads no portal do governo que pretende reunir os livros disponíveis gratuitamente --ou, pelo menos, os mais importantes-- é do século 14, foi escrita em toscano e teve seus versos traduzidos para o português do século 19 por José Pedro Xavier Pinheiro, um baiano que morreu em 1882.

Dante Alighieri (Florença, Maio ou Junho de 1265 — Ravena, 13 ou 14 de Setembro de 1321) foi um escritor, poeta e político italiano. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido il sommo poeta ("o sumo poeta").

Foi muito mais do que apenas um literato: numa época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina Commedia (A Divina Comédia), que se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação do modo medieval de entender o mundo. Nasceu em Florença, onde viveu a primeira parte da sua vida até ser injustamente exilado. O exílio foi ainda maior do que uma simples separação física de sua terra natal: foi abandonado por seus pares. Apesar dessa condição, seu amor incondicional e capacidade visionária o transformaram no mais importante pensador de sua época.

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Um comentário:

Phierus disse...

Machado de Assis, como em Dom Casmurro, tem uma narrativa envolvente que suscita-nos sobre a psicologia dos personagens, com um texto coloquial apesar de ter um peso do habilidoso escritor; todavia José de Alencar laborou, sem pretensão consciente, mas com objetivo ardente, pelo ideal estético de atingir em seus quadros o belo no seu mais elevado grau, pois, além da sedução de sua prosa, que trazia enlevada poesia, mesmo sendo mais sereno do que seus personagens e de que muitos de seus devaneadores leitores, emanava intenso arrebatamento, com uma sintaxe cheia de ritmo e nobilíssimo vocabulário, de tal forma que antes mesmo de o diretor Spielberg, já no século XX, executar seus efeitos especiais, Alencar, ainda no século XIX, já o fazia, só que sem a corrupção do exagero inverossímil, estereotipado e apelativo, deixando a ação no espetáculo, sem perder o intenso movimento, íntegra e transparente; e, sem perder a sua conexão com o expectador, dinâmica e misteriosa, cobrindo com o manto atmosférico do mundo de sua sóbria e fantástica imaginação passada a seus personagens, os ledores de suas histórias magníficas como em UBIRAJARA, depois do diálogo entre Jaguaré - que por mérito de destreza, força e coragem, iria se tornar Ubirajara – e a princesa tocantim, Araci, quando a flecha do guerreiro fixa a faixa da índia no tronco do açaí: “Ergue-se Jaguaré .Seu olhar ardente voou, sôfrego, por encontrar o inimigo que lhe tardava. Avistando uma mulher, a alegria do mancebo apagou-se no rosto sombrio. Pela faixa cor de ouro, tecida das penas do tucano, Jaguarê conheceu que era uma filha da valente nação dos tocantins, senhora do grande rio, cujas margens ele pisava. A liga vermelha que cingia a perna esbelta da estrangeira dizia que nenhum guerreiro jamais possuíra a virgem formosa. A corça veio cair aos pés de Jaguarê, atravessada pela flecha certeira da jovem caçadora que a seguia de perto. A virgem reconheceu o cocar da nação que na última lua chegara aos campos do Taari e da qual os pajés tinham dado noticia.
‘ Guerreiro araguaia, pois vejo pela pena vermelha de teu cocar que pertences a essa nação valente; se pisas os campos dos tocantins como hóspede, bem-vindo sejas; mas se vens como inimigo, foge, para que tua mãe não chore a morte de seu filho e tenha quem a proteja na velhice.
- Virgem dos tocantins, Jaguarê já soltou seu grito de guerra. Ele pisa os campos de teus pais como senhor. Tu és sua prisioneira. Não que vencer a corça tímida seja glória para o caçador; mas tu chamarás o inimigo que ele espera.
- Se o veado te der a sua ligeireza, jovem guerreiro, ela não te servirá senão para ver o rastro de meu pé antes que o vento o apague.
A linda caçadora desferiu a corrida pela imensa campina. Após ela se arremessou Jaguarê que muitas vezes vencera o tapir. Mas a virgem dos tocantins corria como a nandu no deserto, e o caçador conheceu que seu braço nunca poderia alcançá-la. Travou do arco e o brandiu. A seta obedeceu-lhe, pregando no tronco do açaí a faixa que flutuava ao sopro do vento.
- A filha dos tocantins tem no pé as asas do beija-flor; mas a seta de Jaguarê voa como o gavião. Não te assustes, virgem das florestas; tua formosura venceu o ímpeto de meu braço e apagou a cólera no coração
feroz do caçador. Feliz o guerreiro que te possuir.
- Eu sou Araci, a estrela do dia, filha de Itaquê, pai da grande nação tocantim. Cem dos melhores guerreiros o servem em sua cabana para merecer que ele o escolha por filho. 0 mais forte e valente me terá por esposa. Vem comigo, guerreiro araguaia, excede aos outros no trabalho e na constância, e tu romperás a liga de Araci na próxima lua do amor.”
Não é preciso nem “nacionalidade” para se perceber que desse livro, “entre outras coisas, a magnanimidade ressumbra no drama selvagem e forma-lhe o vigorroso relevo.” “Não está aí uma jóia da poesia nacional?” Pois “esse livro – Iracema - vai encontrá-lo” quando “O sol a pino dardeja raios de fogo sobre as areias natais; as aves emudecem; as plantas languem. A natureza sofre a influência da poderosa irradiação tropical, que produz o diamante e o gênio, as duas mais brilhantes expanções do poder criador.”
Vede o esplendor de seu estro logo no início de SENHORA: “Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante.”
É José de Alencar que deve ser proclamado o maior escritor do Brasil.


cristinoroberto@uol.com.br