A terminologia "pessoas com histórico migratório" é usada para nomear estrangeiros ou descendentes destes, mesmo quando vivem na Alemanha há várias gerações. Uma peculiaridade idiomática incomum em outros países.
Para ser alguém com Migrationshintergrund (histórico migratório), o cidadão que vive na Alemanha tem que obedecer a um dos seguintes critérios: ser estrangeiro nascido em outro país, vivendo na Alemanha; ser estrangeiro nascido na Alemanha; ser estrangeiro naturalizado alemão; ser descendente de alemães, criado no Leste Europeu e territórios da antiga União Soviética (Spätaussiedler); ou simplesmente ter um dos pais que obedecem a um dos critérios acima.
O interessante de tal definição é que uma pessoa de "histórico migratório", como deixa claro a palavra, pode nunca ter deixado o território alemão por um dia sequer em sua vida. Para ter o tal passado migratório, basta ter um dos genitores enquadrados nas categorias.
Quase metade da população das grandes cidades
Em 2005, viviam na Alemanha aproximadamente 16 milhões de pessoas com "histórico migratório", o que significa 20% da população total do país, de 82 milhões. Nas grandes cidades, os habitantes com Migrationshintergrund chegam a perfazer 40% da população.
Depois que os departamentos estaduais de estatística introduziram a nomenclatura, em 2005, o uso do termo foi se tornando, no decorrer dos últimos anos, comum nos discursos de políticos, no vocabulário usado pelas autoridades policiais e na mídia do país.
Mesmo que as supostas pessoas de passado migratório sejam netos de imigrantes, já vivendo na Alemanha há várias gerações. E que nunca tenham posto os pés no país de seus antepassados. Ou nem ao menos dominem o idioma de seus avós.
Sarkozy & cia.
A terminologia difere da usada em outros países europeus como o Reino Unido e a França, onde os filhos e netos de imigrantes, quando nascidos no país, são automaticamente considerados britânicos ou franceses. E não ingleses com migration background. Se o atual presidente da França, Nicolas Sarkozy, por exemplo, vivesse na Alemanha, ele não seria um simples francês, mas um cidadão francês de "histórico húngaro".
A intenção dos departamentos de estatística, explicam as autoridades, foi supostamente a de reduzir o uso do termo Ausländer (estrangeiro), ao qual pode ser associada, a princípio, uma exclusão. aus quer dizer "de fora".
O debate a respeito do assunto veio há tona recentemente, quando o governador do estado de Hessen, Roland Koch, fez declarações avessas a "jovens de passado migratório", devido a um suposto alto índice de delinqüência juvenil neste grupo.
Gomez: espanhol ou alemão?
Além disso, outra especificidade da sociedade alemã é chamar vários dos cidadãos nascidos e criados no país, com perfeito domínio do idioma local, de teuto-turcos, teuto-espanhóis, etc. Alguns exemplos, cita o diário berlinense Der Tagesspiegel, ilustram bem o caso, como o de Mario Gomez, escolhido o melhor jogador de futebol de 2007.
Gomez nasceu em 1985 em Riedlingen (no estado de Baden-Württemberg), sempre viveu na Alemanha, joga na seleção alemã, tem mãe natural da Suábia (região do sul alemão) e pai espanhol. O artilheiro da equipe do Stuttgart possui um passaporte alemão e outro espanhol. Para a mídia do país, no entanto, ele é com freqüência citado como "teuto-espanhol". Nascido e criado no país, de pai alemão e camisa da seleção nacional de futebol.
Akin: "turco-alemão", natural de Hamburgo
Outro exemplo curioso é o do cineasta Fatih Akin. Nascido e criado em Hamburgo, o diretor – cujos filmes tratam quase que sem exceção do tema migração – é sempre citado como "turco-alemão", numa obediência cega à regra que dita: pai turco, para sempre turco.
Pensando desta forma, lembra o jornal alemão, a tradição cultural européia estaria cheia de personalidades de dupla nacionalidade: de Joseph Conrad a Picasso, de Greta Garbo a Romy Schneider. Sem contar os alemães que foram obrigados a migrar durante o período nazista.
Afinal de contas, pode-se perguntar qualquer desavisado, qual é a diferença entre um estrangeiro e uma "pessoa com histórico migratório"? E por que aqueles que nascem no país, ali crescem e vivem, não são simplesmente alemães? Para o Conselho dos Estrangeiros de Munique, organização ligada à administração municipal, conta para a definição da pessoa de "fundo migratório", acima de tudo, seu local de nascimento. E também o de seus pais.
Língua: espelho de preconceitos
Nas discussões em torno da falta de oportunidades no mercado de trabalho e deficiências escolares entre os descendentes de imigrantes, fala-se pouco dos aspectos sócio-econômicos dos filhos e netos de estrangeiros. E menos ainda das categorias de permissão de permanência no país, que podem, por exemplo, impossibilitar filhos de refugiados políticos ou requerentes de asilo a participar normalmente da vida pública.
"Este país esforça-se, todos os dias, mil vezes, em prol da integração, em jardins-de-infância, escolas, instituições sociais ou incontáveis departamentos públicos. Apesar de todas as deficiências e atrasos. Mas através de uma linguagem errada, que exclui até mesmo os exemplos de uma integração bem-sucedida, percebe-se que o problema é mais embaixo", observa o Tagesspiegel, ao lembrar que o uso do idioma nada mais é que o espelho dos conceitos e preconceitos arraigados na sociedade.
Fonte: DW
Para ser alguém com Migrationshintergrund (histórico migratório), o cidadão que vive na Alemanha tem que obedecer a um dos seguintes critérios: ser estrangeiro nascido em outro país, vivendo na Alemanha; ser estrangeiro nascido na Alemanha; ser estrangeiro naturalizado alemão; ser descendente de alemães, criado no Leste Europeu e territórios da antiga União Soviética (Spätaussiedler); ou simplesmente ter um dos pais que obedecem a um dos critérios acima.
O interessante de tal definição é que uma pessoa de "histórico migratório", como deixa claro a palavra, pode nunca ter deixado o território alemão por um dia sequer em sua vida. Para ter o tal passado migratório, basta ter um dos genitores enquadrados nas categorias.
Quase metade da população das grandes cidades
Em 2005, viviam na Alemanha aproximadamente 16 milhões de pessoas com "histórico migratório", o que significa 20% da população total do país, de 82 milhões. Nas grandes cidades, os habitantes com Migrationshintergrund chegam a perfazer 40% da população.
Depois que os departamentos estaduais de estatística introduziram a nomenclatura, em 2005, o uso do termo foi se tornando, no decorrer dos últimos anos, comum nos discursos de políticos, no vocabulário usado pelas autoridades policiais e na mídia do país.
Mesmo que as supostas pessoas de passado migratório sejam netos de imigrantes, já vivendo na Alemanha há várias gerações. E que nunca tenham posto os pés no país de seus antepassados. Ou nem ao menos dominem o idioma de seus avós.
Sarkozy & cia.
A terminologia difere da usada em outros países europeus como o Reino Unido e a França, onde os filhos e netos de imigrantes, quando nascidos no país, são automaticamente considerados britânicos ou franceses. E não ingleses com migration background. Se o atual presidente da França, Nicolas Sarkozy, por exemplo, vivesse na Alemanha, ele não seria um simples francês, mas um cidadão francês de "histórico húngaro".
A intenção dos departamentos de estatística, explicam as autoridades, foi supostamente a de reduzir o uso do termo Ausländer (estrangeiro), ao qual pode ser associada, a princípio, uma exclusão. aus quer dizer "de fora".
O debate a respeito do assunto veio há tona recentemente, quando o governador do estado de Hessen, Roland Koch, fez declarações avessas a "jovens de passado migratório", devido a um suposto alto índice de delinqüência juvenil neste grupo.
Gomez: espanhol ou alemão?
Além disso, outra especificidade da sociedade alemã é chamar vários dos cidadãos nascidos e criados no país, com perfeito domínio do idioma local, de teuto-turcos, teuto-espanhóis, etc. Alguns exemplos, cita o diário berlinense Der Tagesspiegel, ilustram bem o caso, como o de Mario Gomez, escolhido o melhor jogador de futebol de 2007.
Gomez nasceu em 1985 em Riedlingen (no estado de Baden-Württemberg), sempre viveu na Alemanha, joga na seleção alemã, tem mãe natural da Suábia (região do sul alemão) e pai espanhol. O artilheiro da equipe do Stuttgart possui um passaporte alemão e outro espanhol. Para a mídia do país, no entanto, ele é com freqüência citado como "teuto-espanhol". Nascido e criado no país, de pai alemão e camisa da seleção nacional de futebol.
Akin: "turco-alemão", natural de Hamburgo
Outro exemplo curioso é o do cineasta Fatih Akin. Nascido e criado em Hamburgo, o diretor – cujos filmes tratam quase que sem exceção do tema migração – é sempre citado como "turco-alemão", numa obediência cega à regra que dita: pai turco, para sempre turco.
Pensando desta forma, lembra o jornal alemão, a tradição cultural européia estaria cheia de personalidades de dupla nacionalidade: de Joseph Conrad a Picasso, de Greta Garbo a Romy Schneider. Sem contar os alemães que foram obrigados a migrar durante o período nazista.
Afinal de contas, pode-se perguntar qualquer desavisado, qual é a diferença entre um estrangeiro e uma "pessoa com histórico migratório"? E por que aqueles que nascem no país, ali crescem e vivem, não são simplesmente alemães? Para o Conselho dos Estrangeiros de Munique, organização ligada à administração municipal, conta para a definição da pessoa de "fundo migratório", acima de tudo, seu local de nascimento. E também o de seus pais.
Língua: espelho de preconceitos
Nas discussões em torno da falta de oportunidades no mercado de trabalho e deficiências escolares entre os descendentes de imigrantes, fala-se pouco dos aspectos sócio-econômicos dos filhos e netos de estrangeiros. E menos ainda das categorias de permissão de permanência no país, que podem, por exemplo, impossibilitar filhos de refugiados políticos ou requerentes de asilo a participar normalmente da vida pública.
"Este país esforça-se, todos os dias, mil vezes, em prol da integração, em jardins-de-infância, escolas, instituições sociais ou incontáveis departamentos públicos. Apesar de todas as deficiências e atrasos. Mas através de uma linguagem errada, que exclui até mesmo os exemplos de uma integração bem-sucedida, percebe-se que o problema é mais embaixo", observa o Tagesspiegel, ao lembrar que o uso do idioma nada mais é que o espelho dos conceitos e preconceitos arraigados na sociedade.
Fonte: DW
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